Detalhe do Depoimento 2 - Quero uma família
Detalhe do Depoimento
29-04-2016
"Em 12/05/2015, fomos habilitados à adoção, eu, Anita Ferreira Marinho e Adilson José Pereira. Alguns poucos dias após, no mesmo mês, recebemos uma indicação para visitarmos Leticia (não sei se é caracterizado busca ativa), uma moreninha linda, que aos 10 anos ainda falava um pouco "tatibitati". Meio indiazinha, faladeira e apaixonante, saímos do abrigo com uma vontade certa de voltar. Havia sido devolvida de uma adoção frustrada pelos padrinhos que durou cinco meses e havia partido seu coração pela segunda vez. Iniciou-se ai, durante o resto de maio, junho e até 13 de julho um "namoro" sem igual. Logo na segunda visita Leticia disse:
- Eu acho que sei por que vocês estão vindo aqui.
- É mesmo, então nos diga! Eu e Adilson falamos.
- Porque vocês querem me adotar. Então, nos entre olhamos e respondemos quase que juntos:
- É você quem vai dizer se nos quer adotar. A escolha é sua. Você responde quando quiser.
Não perdeu tempo e, com a carinha mais gaiata e linda do mundo, meio que mordendo a mão:
- Eu quero! E abraçou a nós dois, já na maior intimidade.
Logo no terceiro dia, como fui à visita direto da faculdade (um sábado), cheguei primeiro que o Adilson, (pela manhã, tínhamos combinado que passaríamos a nos referir um ao outro, não mais como "o tio" e "a tia", mas como "o papai" e "a mamãe"), então liguei para ele e a pedi que perguntasse se já estava chegando. Foi quando sem ter comentado nada com ela, perguntou:
- Posso chamar ele de pai?
- Claro! Eu disse, enquanto chamava o celular.
- Pai, onde você está?
O coração se encheu de alegria.
Passou a ir aos finais de semana para casa e a devolvíamos na segunda-feira direto na escola. No início, muito tímida e receosa, aos poucos fomos mostrando o quanto tudo pode ser leve e que estava em casa. Que não precisava de alguns protocolos (apesar de sua história, muito educada e cuidadosa). Em, 13 de julho recebemos sua guarda provisória e, nossa vida de dupla imbatível passou a ser de trio vitorioso. A cada dia, confiava mais em nós e, principalmente, percebia o quanto era amada. Nossa filha, agora Leticia Sofia, nossa Lelê, ainda não sabia ler, conhecia pouco as letras e os números aos 10 anos. Doía muito em nossos corações, pois esta falta estava atrapalhando até na dicção. Buscamos toda ajuda que podíamos. Amigos especialistas em educação, em desenvolvimento e brinquedos pedagógicos para auxiliar. Sofremos para encontrar uma escola que abraçasse sua condição atual e chegamos a ouvir que procurássemos uma outra escola que estivesse a altura do pouco conhecimento dela. Já matriculada em uma escola pública do município apenas para finalizar o 3ª ano em que se encontrava, buscamos uma escola que abraçasse nossa família e, em outubro de 2015, tendo a encontrado, nos indicou um estudo direcionado para que pudéssemos desenvolvê-la em paralelo à quase que pro-forma frequência à escola em que estava matriculada. Seu crescimento pessoal tem sido intenso. Sua docilidade é um encanto. Aos domingos, vamos a evangelização que adora. Quanto à nossa relação, no início, por algumas vezes, em uma fase em que testou muito nossos limites e entendemos que era uma forma de saber se a queríamos de verdade, perguntei por umas duas vezes se tinha medo de ser devolvida ao abrigo. Respondendo que sim, uma vez até se emocionou ao responder. Então afirmávamos sempre: Você é nossa filha e a queremos muito!
As vezes até brincávamos: Dançou, é nossa filha e ninguém tasca!
Em meados de novembro, tivemos uma situação em que ela avistou sua mãe biológica e, logo que passou o momento, busquei conversar sobre seus sentimentos e ratifiquei que esse assunto pode ser conversado e falado sempre que quiser. Ela, muito bem posicionada demonstrou o quanto está consciente de tudo o que ocorreu e ratifiquei sobre o que é seguro sem neuras. Por fim, novamente perguntei se ainda tinha medo de ser devolvida ao abrigo e ela deu de ombros e disse que não mais, como que realmente aquilo não tinha mais importância. Quando meu marido chegou em casa contei para ele e ficou muito feliz com sua segurança. Ela, já naquela época já se sentia em casa e o período de testes havia passado. Hoje, nossa princesa, agora com 11 anos, está totalmente integrada à família. "
Anita Ferreira Marinho e Adilson José Pereira